A inclusão escolar e as instituições de ensino
Ao longo e mais de oito anos de atuação do Instituto Apta, acompanhamos o processo de inclusão em mais de quarenta instituições de ensino privadas – e vivemos de tudo um pouco. Conseguimos de definir de forma muito direta, três diferentes perfis de instituições de ensino – que iremos compartilhar agora com vocês.
Instituições Negacionistas – excludentes, evitam os “diferentes”, onde o perfil de “somos todos vencedores” prevalece em detrimento de um ambiente mais colaborativo e construtivo. Colégios onde a inclusão de forma escancarada não faz parte do interesse de gestores e equipe docente, que praticam “artimanhas” para barrar o acesso/matrícula dos alunos de inclusão. Os poucos alunos atípicos que estão nessas instituições iniciaram na educação infantil e apresentaram alguma necessidade educacional específica no decorrer do seu desenvolvimento – e esses pais persistentes são aliciados constantemente a buscar uma instituição “mais adequada” às necessidades de seus filhos. Embora todas as leis de proteção à pessoa com deficiência, esse aliciamento se manifesta de diferentes formas: em não gerar acessibilidade física (mobiliários e rampas de acesso) e pedagógica (adequações/adaptações), em não utilizar material de apoio (visual, sensório-motor) e tecnologia assistiva, em não destinar um profissional de mediação escolar (ou auxiliar de educação especial) para os alunos com Transtorno do Espectro do Autismo (e outras necessidades comportamentais), em não produzir o P.E.I. (Plano Educacional Individual) com metas e objetivos individuais para o aluno de inclusão. Muitas vezes, esses pais são vencidos pelo cansaço e buscam outra instituição mais acolhedora. Poucos permanecem, alguns sob força de liminar – buscam os meios jurídicos para assegurar o direito à inclusão mas, inevitavelmente, o que impera nesses casos é uma relação hostil, de desconfiança e insegurança dos familiares em relação ao bem-estar do aluno de inclusão. E vice-versa.
Instituições Neutras – são colégios onde os alunos de inclusão são matriculados sem impedimentos significativos mas a prática da inclusão não faz parte da rotina pedagógica do corpo docente e coordenação. Uma pesquisa rápida indica que a maioria das instituições onde estivemos presentes está enquadrada nessa classificação. Professores apáticos, que são resistentes a pensar numa forma eficiente de incluir o aluno na dinâmica da turma. São instituições onde a presença do mediador particular, contratado pela família, é muito bem-vindo (chega a ser até um “alívio”) pois tira dos ombros da instituição o fardo das adequações pedagógicas, da produção do P.E.I. e aplaca a insatisfação desses pais em relação a qualidade da inclusão. Essas instituições estão dando o primeiro passo em direção a quebra das barreiras atitudinais tão presentes na questão da inclusão. Conviver com o diferente, compartilhar saberes, construir relações é o primeiro passo para iniciar uma sociedade mais inclusiva.
Instituições Inclusivas – são aquelas onde a inclusão está presente verdadeiramente em suas bases, amplamente definida em seu Plano Político Pedagógico (PPP), nas práticas docentes reais da equipe – dos professores ao porteiro. Realmente vi poucas instituições que se enquadram nesse perfil, de forma realista. Colégios onde a singularidade de seus alunos é fator relevante e disparador das ações propostas (de TODOS os alunos – não somente os atípicos). Onde há palestras sobre inclusão e diversidade tanto para pais quanto para a equipe, treinamento e capacitação sobre os assuntos pertinentes à inclusão com qualidade. Onde os professores estão abertos à colaboração da equipe multidisciplinar, onde a troca produtiva entre todos beneficia amplamente o aluno de inclusão, onde os pais são convidados a contribuir na construção do P.E.I., enfim, um local onde uma sociedade mais humanizada e inclusiva começa a ser construída.
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